segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Felicidade

No outro dia, um amigo meu disse-me: "já te conheço há tempo suficiente para saber que não estás feliz aí. Não estás pois não?"

Isto levou-me a pensar na ideia que algumas pessoas têm de que a vida tem de ser uma maré constante de felicidade.

Quando decidi vir para Timor, posso dizer que a minha vida estava "flat". Dinheiro no final do mês, casa, carro, amigos, família, trabalho interessante e projectos de vida. Estava a viver na minha zona de conforto, da qual não tinha a menor necessidade de sair. Na concepção de muita gente isto é ser feliz e como o seu objectivo de vida é ser feliz não haveria que mudar.

O busílis da questão ou onde a porca torce o rabo é que eu não tenho como objectivo de vida ser feliz, não penso que a felicidade tenha de ser constante e não acho que a felicidade tenha de estar associada a estabilidade e conforto.

Eu quero ter momentos felizes, mas, para mim, viver é uma soma de experiências e, quanto mais variadas estas forem, mais rica terá sido a minha vida no final. Quero conhecer outras vivências diferentes da minha, outros lugares, outras gentes. No final, estará sempre, inexoravelmente, a morte. Portanto, posso viver no meu mundo, sem grandes alegrias, mas também sem grandes tristezas, rodeada do que conheço e que já não me assusta, sendo feliz dessa forma, ou posso sair das fronteiras da minha zona de conforto.

Haverá momentos infelizes, em que estarei triste? Sim. Haverá momentos inacreditáveis, de pura beleza e felicidade? Também.

Quando vim para Timor, sabia que o primeiro mês seria difícil. Embora, pudesse ter a sorte de me adaptar muito rapidamente, encontrar pessoas fantásticas, o mais expectável era que não fosse acontecer assim.

Esta não é uma realidade fácil, no sentido, de estar rodeada de bem-estar, e isso torna tudo mais complicado num primeiro momento. Estamos muito mais dependentes das pessoas que nos rodeiam. Se tivesse chegado a Nova Iorque, por menos gente que conhecesse, com certeza, teria muito com que me entreter. Aqui não.

Utilizando o meu pragmatismo, no momento mais baixo, dei-me duas semanas. Ou passava a ser bom ou ia embora. Não considero que desistir de algo tenha necessariamente de ser um acto de cobardia. Desde que se tenha lutado antes para que tudo corresse bem e desde que se tenha dado o benefício da dúvida. Não gosto de desperdiçar tempo.
E eis que depois da tempestade veio a bonança. Mas sei que depois da bonança talvez venha outra tempestade. Mas o que tiver vivido na tempestade tornar-me-á mais forte. O que tiver vivido na bonança terá um sabor infinitamente mais agradável do que navegar a vida toda num mar flat.

O dia de anos correu bem, com um jantar no Hotel Timor. Cheiro a tabaco quando se entra, como já não acontece na maioria destes sítios em Portugal, ambiente tropical, com madeira, ventoínhas e plantas verdes. Companhia bastante agradável, com direito a muitos mimos, que foram directamente para o armário do coração com a etiqueta "Timor".

Primeira semana de aulas estimulante, com duas disciplinas e alunos que fazem adivinhar muitos desafios, muitas alegrias e... desilusões. É a vida.

Fim-de-semana preenchido com duas viagens. Uma a Baucau e outra a Ataúro. Paisagens lindas, gente afável, companhia muito divertida numa viagem e outra mais contemplativa na outra. Em Ataúro estive num resort ecológico. Tudo reaproveitado. Fica o exemplo para os timorenses, que andam a aprender coisas úteis com os seus vizinhos. E, já agora, fica também o exemplo para os portugueses.

- Estás feliz?
- Agora estou... só porque perguntaste e por assim saber que tenho alguém como tu para se preocupar comigo.

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