quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Regresso ao Taekwondo

Quem diria que o meu regresso ao Taekwondo seria em Timor Leste...
Há coisas que me agradam muito aqui. Fui lá anteontem, o mestre (timorense) disse-me que ligava hoje, ligou mesmo, e ainda marcou para o próprio dia. Arranjou dois miúdos também timorenses e muito simpáticos para me dar o treino, porque não tem tempo, devido aos Asia Games, e ainda se justificou! Acabou por ser personalizado, correu super bem e, no final, um deles ainda se ofereceu para me vir pôr a casa! Nice or what?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Agenda timorense

Em primeiro lugar, obrigada a todos os que lêem o blogue (www.haubelebatimor.blogspot.com) pelos elogios e pela força. É muito bom saber que há quem goste do que escrevo e da forma como escrevo. É muito bom saber que o que deixei em Portugal continua aí à minha espera.

Notas na agenda:

- Sexta-feira:
Fui para a night aqui no burgo. Discoteca local arejada (não tinha janelas), dando pelo nome de Casa Minha.
Só entra quem está na guest list, mas eu não estava e entrei na mesma (mas os colegas estavam. Deve ter sido por isso...)
Não deu para fazer uma análise rigorosa à fauna local, mas acaba por se ver de tudo (portugas, austras e timorenses).
Música não gravei na memória, mas uma tinha coreografia própria, impossível de fazer à primeira, especialmente com neurónios a funcionar com combustível etílico (não os meus, claro está).
Shots com nomes estúpidos, de cariz sexual, como em qualquer lado.
Moçambicano-timorenses porreiros e com muita dificuldade em divertirem-se.
A noite termina invariavelmente em estalo entre timorenses e esta não foi excepção. Deu para ver qualquer coisa, mas achei melhor debandar.

Sábado e domingo: leve ressaca (eu não bebo, eu não bebo) misturada com constipação, mas com pica para limpar quarto, casa-de-banho, tratar da roupa e fazer sopa. Nada mais a relatar, porque a minha memória é selectiva e bastante minha amiga.

Segunda-feira: ida à secretaria de estado juventude e desporto. Há taekwondo em Timor. Conheci o meu futuro mestre (espero eu). Mesmo em tétum, lá consegui entender que era para estar no dia seguinte no pavilhão atrás da universidade, onde se realizam os treinos. Anda tudo a treinar para os Asian Games. Vai Timor! Vai Timor!
Destaque: detesto o preconceito de certa maltosa (portuga e timorense), que acha que artes marciais em Timor são só para gangues e têm sempre catanas à mistura. Claro que nunca meteram os pés em Arcena (Alverca)...

Terça-feira: preparação das formações extra-curriculares. Formadores jovens e muito simpáticos. Trabalhámos quatro em conjunto e foi divertido e produtivo. Interrupção a meio para ver o treino de tkd. Encontro com mestre de Kempo: touro de 1,60x1,30. Para me explicar o que era aquilo, agarra-me numa mão e, por artes mágicas, fico de joelhos no chão em menos de um segundo. Por sinais, manda-me tirar as sandálias e entrar no tatami (ou tipo) e ando ali um bocadinho a "brincar" com ele, com gargalhadas (dos meus formadores) em pano de fundo. Fun. Lá encontrei o mestre de tkd. Vai entrar em contacto na 5ª (espero bem que sim). Há aulas só para malai (estrangeirada, que só quer brincadeira), mas falta espaço, porque está tudo ocupado com os treinos para os Asian Games.

Quarta-feira: óptimas notícias de Portugal. Há alguém que se vai pôr ao fresco e mais não posso dizer. Almoço de despedida de outro colega. Só dei meia aula... O que eu adoro espicaçar este pessoal. Acção pessoal! Não deixem que sejam os outros a decidir por vocês. Organizem-se! FORÇA TIMOR!!!!

Projectos: grupo de teatro, taekwondo, refazer e terminar artigo a tempo e horas, trabalhar para a tese.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Felicidade

No outro dia, um amigo meu disse-me: "já te conheço há tempo suficiente para saber que não estás feliz aí. Não estás pois não?"

Isto levou-me a pensar na ideia que algumas pessoas têm de que a vida tem de ser uma maré constante de felicidade.

Quando decidi vir para Timor, posso dizer que a minha vida estava "flat". Dinheiro no final do mês, casa, carro, amigos, família, trabalho interessante e projectos de vida. Estava a viver na minha zona de conforto, da qual não tinha a menor necessidade de sair. Na concepção de muita gente isto é ser feliz e como o seu objectivo de vida é ser feliz não haveria que mudar.

O busílis da questão ou onde a porca torce o rabo é que eu não tenho como objectivo de vida ser feliz, não penso que a felicidade tenha de ser constante e não acho que a felicidade tenha de estar associada a estabilidade e conforto.

Eu quero ter momentos felizes, mas, para mim, viver é uma soma de experiências e, quanto mais variadas estas forem, mais rica terá sido a minha vida no final. Quero conhecer outras vivências diferentes da minha, outros lugares, outras gentes. No final, estará sempre, inexoravelmente, a morte. Portanto, posso viver no meu mundo, sem grandes alegrias, mas também sem grandes tristezas, rodeada do que conheço e que já não me assusta, sendo feliz dessa forma, ou posso sair das fronteiras da minha zona de conforto.

Haverá momentos infelizes, em que estarei triste? Sim. Haverá momentos inacreditáveis, de pura beleza e felicidade? Também.

Quando vim para Timor, sabia que o primeiro mês seria difícil. Embora, pudesse ter a sorte de me adaptar muito rapidamente, encontrar pessoas fantásticas, o mais expectável era que não fosse acontecer assim.

Esta não é uma realidade fácil, no sentido, de estar rodeada de bem-estar, e isso torna tudo mais complicado num primeiro momento. Estamos muito mais dependentes das pessoas que nos rodeiam. Se tivesse chegado a Nova Iorque, por menos gente que conhecesse, com certeza, teria muito com que me entreter. Aqui não.

Utilizando o meu pragmatismo, no momento mais baixo, dei-me duas semanas. Ou passava a ser bom ou ia embora. Não considero que desistir de algo tenha necessariamente de ser um acto de cobardia. Desde que se tenha lutado antes para que tudo corresse bem e desde que se tenha dado o benefício da dúvida. Não gosto de desperdiçar tempo.
E eis que depois da tempestade veio a bonança. Mas sei que depois da bonança talvez venha outra tempestade. Mas o que tiver vivido na tempestade tornar-me-á mais forte. O que tiver vivido na bonança terá um sabor infinitamente mais agradável do que navegar a vida toda num mar flat.

O dia de anos correu bem, com um jantar no Hotel Timor. Cheiro a tabaco quando se entra, como já não acontece na maioria destes sítios em Portugal, ambiente tropical, com madeira, ventoínhas e plantas verdes. Companhia bastante agradável, com direito a muitos mimos, que foram directamente para o armário do coração com a etiqueta "Timor".

Primeira semana de aulas estimulante, com duas disciplinas e alunos que fazem adivinhar muitos desafios, muitas alegrias e... desilusões. É a vida.

Fim-de-semana preenchido com duas viagens. Uma a Baucau e outra a Ataúro. Paisagens lindas, gente afável, companhia muito divertida numa viagem e outra mais contemplativa na outra. Em Ataúro estive num resort ecológico. Tudo reaproveitado. Fica o exemplo para os timorenses, que andam a aprender coisas úteis com os seus vizinhos. E, já agora, fica também o exemplo para os portugueses.

- Estás feliz?
- Agora estou... só porque perguntaste e por assim saber que tenho alguém como tu para se preocupar comigo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Reflexões aniversariais:

Hoje é Domingo, dia 7 de Agosto.

- Cheguei à meia-idade. Já não sou oficialmente jovem. No entanto, quando fiz
10 anos senti-me 20 vezes pior, porque o meu primo Vasco me disse que a minha idade iria passar a ter dois dígitos, que nunca mais voltaria a ter um único e que só passaria a três, quando fizesse 100 anos. Quando fiz 20 anos, fiquei triste, porque tinha deixado oficialmente de ser teenager. A inconsciência continua e quando fizer 50 pensarei em quão tonta sou hoje.

- Quando fiz 15 anos, a minha avó paterna disse-me "daqui até aos 30 é para ganhares juízo". Nesse ano, estava em Vendas Novas e fui lanchar com a minha amiga Teresa Lagarto Picado. Pensava que para os 30 faltava uma eternidade. Já se passaram 20 anos. A minha amiga Teresa foi das primeiras pessoas com quem falei hoje (viva o FB) às 2h30 de Portugal. A minha avó anteontem ainda limpou os "amarelos" nas "limpezas grandes".

- Há 15 anos soprei as velas dentro de um barco no canal da Mancha, recebi da minha amiga Vanda um peluche que ainda reside em cima da minha estante do quarto e a mãe dela conseguiu enganar-me quanto à minha própria data de anos. Fez-me pensar que era um dia a menos. Nessa viagem conheci o meu grande amigo Luís Lima que estava a estudar turismo e que, este ano, me aturou durante 3 meses a organizar uma viagem à Turquia, que nunca chegou a acontecer, e a viagem para Timor.

- Há 10 anos, estava em Cracóvia, com os meus amigos Vanda, Bife e Sónia. Ofereceram-me uma caixa azul para pôr brincos e colares. Ainda é a que utilizo hoje em Portugal. O meu amigo Bife sonhava em casar-se. Já tinha a casa, só lhe faltava a mulher. Hoje tem 2 filhos e um pónei... e mulher.

- Há um ano estava em Perugia e tinha acabado de conhecer os meus amigos Constantinos e Chrysanthos. Estava no início de um dos meses mais inesquecíveis da minha vida.

- Hoje estou em Díli e o meu dia de anos terá 32 horas. Para o ano, faço o balanço.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quotidiano

Saída de casa por volta das 9h da matina. Sr. Tobias, o motorista, já à espera, para cumprir com a sua missão de me transportar e a um colega até à universidade. Entramos na viatura de volante à direita e já Januário, o porteiro, abre os portões, como faz sentido, dada a sua profissão. Carro em andamento, Januário retira-se para o lado e atiramos-lhe uns sorrisos e acenos.
Sr. Tobias quase a bater deliberadamente numa moto que passa no momento e ar retido nos pulmões dos transportados "ele viu que eu estava a sair do portão e, mesmo assim, não parou". Afinal, nem tudo faz sentido nesta terra.
A meio do dia, almoço num restaurante self-service perto da universidade, seguido de passeio no parque junto à marginal. As sombras e o ar do mar tornam o ambiente mais fresco, embora esta não seja a época mais quente do ano. Olho para cima e... um macaco diverte-se nos ramos de uma árvore... e mais outro... e outro ainda.
Continuo a caminhada lentamente e, muito lá à frente, ao passar em frente às bancas de venda de frutas e legumes, inverto o sentido da marcha. De repente oiço: "Senhora Inês!" e penso "estou a alucinar". E de novo "Senhora Inês!". Páro e olho. Está uma criança sentada numa mesa, a olhar sorridente para mim. Retribuo e pergunto-lhe com ar altamente surpreendido: "como é que sabes o meu nome?". E pergunto-me como é possível aquela gente já me conhecer. De trás de uma bancada surge, então, uma mulher, também cheia de sorrisos e reconheço-a. Já lhe tinha comprado fruta e disse-lhe o meu nome. Isto foi na semana passada ou, se calhar, na anterior. Nota do meu colega, professor de 60 e tal anos: "não se esqueça que o tétum era uma língua só de oralidade, portanto eles têm mais facilidade em decorar o que ouvem do que nós, que decoramos através da escrita". Nota minha: logo regresso para lhe comprar fruta. CRM do mais bem feito.
Regresso ao centro, já a precisar de descansar um pouco. Após repousar sentada à secretária, dirijo-me ao consulado para fazer o meu registo e, de seguida, rumo ao banco, logo ao lado. Um dos empregados tinha-me dito para passar lá às 3h da tarde, pois teria o meu cartão multibanco pronto a levantar. Aqui estas coisas não vão por correio. São um quarto para as 3h e resolvo esperar. Aos 5min para a hora, decido que é melhor regressar no dia seguinte, até porque duvido que se cumpra a palavra. Saio e, após dar alguns passos, oiço de novo nas minhas costas: "Senhora, senhora" e penso que não deve ser para mim. Continua o chamamento e viro-me. É o empregado que se dirige, precisamente às 3h da tarde para o balcão do banco, tal como tinha dito, para me entregar o cartão.
Volto a sair do banco e tento atravessar a estrada na passadeira. Lanço-me quando vejo um carro da UN, ingenuamente na esperança de, sendo um estrangeiro, que pare na passadeira. Passa a abrir e confirma o que penso de muita desta malta que vem trabalhar para estes países: são uns selvagens...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O mundo não tem fim

Não gosto de falar de um povo como se de uma raça canina se tratasse: "os golden retriever são animais dóceis, bons para lidar com crianças. Já os franceses não gostam de tomar banho". No entanto, é interessante ver como os timorenses, ou pelo menos alguns, lidam com esta situação peculiar, que é a de um vaivém de estrangeiros mais ou menos constante no seu território. Dão boas-vindas a uns e despedem-se de outros. A minha festa de recepção foi feita em simultâneo com a festa de despedida de dois colegas que permaneceram por cá vários anos. Muito me honrou ter recebido, de uma criança, uma salenda com uma inscrição especial direccionada à minha pessoa. Uma salenda é uma espécie de cachecol e o petiz enrolou-ma ao pescoço, qual campeã a receber uma medalha.
Foi então proferido um discurso de despedida, sem grandes pretensões, para não acabar tudo em choradeira, terminando da seguinte forma: "mas o mundo é pequeno, haveremos de nos encontrar, senão neste, no próximo". Hoje, na partida de uma dessas colegas, mais uma vez veio à baila o outro mundo. "Haveremos de nos voltar a ver, doutora, nem que seja no outro mundo". Reconfortante, não?

Bio-ritmo timorense

Saio de uma conferência na faculdade e, lá fora, quando entro no carro que me vai levar a casa, já é noite cerrada. Chego, tomo banho, preparo o arroz para o jantar, janto calmamente, vejo um pouco de televisão e vou para o meu quarto ver o que há de novo por terras facebookianas. Começo já a cair de sono e olho para o relógio: são nove da noite :~
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