sábado, 24 de setembro de 2011

Malai

Ultimamente, ou seja, nos dois últimos fins-de-semana tenho ido correr aqui por Díli. Sempre ao fim da tarde, porque durante o dia faz demasiado calor.
A vantagem de correr ou andar pela cidade a pé é ter um contacto mais próximo com a realidade. Uma coisa que me agrada por aqui é a vida, a actividade. Durante o dia, há sempre gente na rua. Vêem-se homens com paus aos ombros com cachos de bananas pendurados em cada uma das extremidades. Do mesmo modo, também podem transportar alfaces ou outras verduras, pequenos sacos com tomates ou limões, peixe preso pela boca, etc. Vêem-se, por exemplo, crianças a vender ovos em grandes caixas e, ainda, os muitos vendedores de cartões para carregar o telemóvel. Nos dias de semana, as crianças fardadas vêm e vão para as escolas e outras ainda correm atrás de rodas controladas por um pauzinho, como se via em Portugal no tempo dos nossos pais ou avós. Todos circulam a pé, de carro e, sobretudo, de moto e de bicicleta. Sempre devagar.
Ao longo do meu percurso tenho de cumprimentar diversas pessoas que não conheço, contornar alguns cães e ouvir vezes sem conta "malai", "malai". "Malai" é a palavra que os timorenses utilizam para designar "estrangeiro". Ao ouvir isto, soa quase como um aviso: "atenção que vem lá um estranho". Parece que vem de "malaio", e esta espécie de grito era, de facto, um alerta. Passou de geração em geração e ainda continua a ser ensinado às crianças. A questão é que Díli está cheia de estrangeiros. Para quê isto? Estranho.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A minha rua

Saio de casa ao final da tarde, quando o tempo já está mais fresco, rumo ao final da rua, onde se encontram umas bancas de frutas e legumes, enquadradas por roupas em segunda mão, também para venda. Tenho de ir ver de coisas para o jantar. Atravesso o portão vermelho e digo boa tarde a toda a maralha que costuma fazer companhia ao porteiro/segurança. Este é só o primeiro "boa tarde" de todos os que vou ter de dizer ao longo do caminho, que se resume a uma rua, a minha. Cheiro de fossa no ar e lá vou eu. Às vezes, para criar empatia, digo "boa tardi", mesmo com o sotaque local. Nem sempre o objectivo é alcançado. Oiço os risos atrás de mim e também me dá vontade de rir. A meio, reparo numa carrinha branca da UN estacionada ao meu lado direito. Olho descaradamente e observo o dono, provavelmente um australiano dos seus 40 e tal anos, loiro e anafado. Acompanho-o o respectivo cão, bem cuidado e sem trela e, este sim, preso a uma coleira, o seu macaquinho de estimação...
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